Hipermetropia Selvagem

Agravo-me, procuro-te, e mais uma vez, desisto.

Leonardo Moreira
2 min readOct 30, 2022

Encaro-te, tento-lhe, supero-me e por fim desisto. O pulsante é grande, o atrevimento aumenta com os dias. Não conjecturo, exilo-me sozinho e repenso a decisão já tomada. Mudo-a, transformo-me, empobreço-nos.

Compreendi-a ruinosa. Não edificou, caiu. Aos poucos, é… Um pouco de cada vez; tudo escombro. Lamentável! Abaixo a cerca, corri de mentira: tão solidamente erguido o único pecado foi ter desmoronado. Farsa! É verdade. Admirável passado, assentamento doente. Vislumbro o medicamento em sintomas estratégicos. Invento solução indeliberadas, não menos eficazes, cientificamente louváveis, estou ficando louco.

Hipermetropia Selvagem — @a214b

Em palavras escalei o peito para ouvir o incômodo. No livro das palavras coloquei fogo: enigmas distantes para coisas acaloradas. Corajosos termos extravagantes que envergonham a alma. Mortificante não achas? É a sua natureza. Destrezas com quê de falta mais. Alucinações com hiperdoses de realidade. No fim de tudo isso apelam-me para que eu encontre-me dentro do nada. Foi o sorriso, não! Foi o gesto de suprema vaidade, não mesmo. Já sei: foi tudo e não foi nada. É… Exatamente.

Medíocre criatura.

Nebuloso, dificultoso momento. No diálogo me faltam as palavras que no quadro literário sobram-me em arte escrita. É no corpo de índole branca que com tons negros grafo soluções terapêuticas. Furto-me na consolação branda, cega e incolor. É tudo e mais um pouco. E sobretudo… os outros. Mixuruca. Enfático… É mesmo! Enfático demais para ser verdade. E aí? Reviro os olhos, aprendi primeiro com as costas. Incógnitas de divã, bolso vazio. Escrita paga, escrita barata. Soluções herdadas, soluções de pai e mãe.

Agravo-me, procuro-te, e mais uma vez, desisto. Sem vergonha vou-me embora. Sem vergonha na cara mostro-lhe e sangro meu coração até a solução mais inconveniente. E tudo isso para entender que o movimento foi nobre demais, caro demais. É morrendo que se aprende. Mas é só um pouco de morte. O suficiente para saber o que falta, o que regenera e o que não tem mais volta.

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